22 março 2007

detalhe e frigidez


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Quem não dorme é refém dos barulhos, do ruído que estala dentro. Quem não dorme faz amor com o cosmos, porque é obrigado. Há todo um sistema de vestes compridas que circunda quem não dorme e à mão de contemplar: são os números vermelhos das horas no despertador, os lençóis enrolados e que as mãos arrumam, o ressonar longínquo da vizinha ou do vizinho, as persianas baixas mas a deixarem pequenas brechas para espreitar. Se não se dorme à noite então contempla-se tudo, juntando os pontinhos pretos que aparecem aos olhos fechados como viagem de astronauta. É engraçado como não adormecendo chega um universo apressado a quem está acordado. Desejar dormir é mais do que querer dar descanso ao cérebro. As sinapses continuam todas lá, mesmo quando nos esticamos. Sucedem portanto coisas inimagináveis a quem dorme. São as partes do corpo que se estendem como as antenas dos carros, as palpitações nas pontas dos dedos e das pestanas, o virar talvez violento de costas e barriga. Oníricas: é a primeira palavra no plural que nos vem à cabeça ao pensar em quem dorme. Diz-se que “quem dorme, opera e colabora com o que sucede no cosmos”, desde o desejável ao impensável, desde a quietude à agressão, desde a cor ao escuro.
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