17 abril 2013

A primavera das aranhas
















Abril chegou por fim
e ele forma no Universo inteiro
aquela teia donde as aranhas se levantam
contra a sombra da passada noite.

Em bloco, num derradeiro e sólido bloco,
erguem-se do chão em gigantesco passo,
cobrindo as ruas e as pequenas casas
de janelas vagas para os pássaros.

Eu havia fechado, em primeiro lugar,
a porta da frente, a principal porta.
Mas esqueci como pode uma janela
ser assim visitada por este abril ignaro
e rastejante, lançado à vida e às suas formas.

Então olhei, e surgindo do horizonte
vi nascer o violáceo céu das aranhas
de todos os bichos de uma nova era.
Não mais, como antes, apareceram diante de mim
as humanas formas de abril,
como um sonho. 

16 abril 2013

Cordas















Um écran escuro de dentro da voz
e as plantas no azul escuro podiam cantar horas a fio,
seriam elas a cantar-te de novo
enquanto submersas fossem um amor de agora,

esse écran é como um fio de câmara
levíssimo,
cuja corda é tão coesa entre as alturas,

é tão estranho esse teu tom de voz
são horas a fio onde eu o escuto.