29 maio 2010

Ou Neil Young


Começa pela maneira discreta de cantar,
segue-se uma visita ao outro lado da voz -
acendemos cigarros, amanhã ainda é dia de te voltar a ver
...aqui,
um poema diverso
vem ao estilo neil young
e tudo por causa do termo young, aquela arte
contrária à técnica de por a voz que não se tem

é uma sinceridade procurar-te,

menos turva em relação à adolescência de te ver na praia
mas é sombria.
Dizes-me «--------------» (eu a desejar contar-te aqui),
é na verdade um espaço em branco
um fascínio diferente matizado pelo tempo
como se o tivesse posto à venda,
à espera de ver nascer a mesma rima
e um fado barroco a chegar-me de parte incerta,
como é costume. Ocupo-te um lugar estranho
que não faz rimar young comigo
(tudo tão pop no mundo)
mesmo que da rua fujas
e entre as enigmáticas vozes me encontres na opalina dor
...de mim,
a cantar de novo.

12 maio 2010

Ou primeira vez
















Deixaste-me na pele uma rota
desenhada pela tua - tão menos obscura,
agora que a violência nua deste poema
é o seu traço. Hoje essa rota é estar em ti
porque me lembro dela em mim: tão arriscada
fora a sombra, como se o mistério
mais não fosse ter-te ao pé de mim,
ver o que já tinha visto. Mas a voz era esse fio
no qual caí, suspenso por um braço
que de noite me rendia o ar e no regresso
me trazia outra pessoa. Deixaste-me essa rota
inscrita em prosa, cheia de vida num lugar
depois levada por um rio,
tão plena no seu percurso.

11 maio 2010

My healing friend


(para Ana Luísa Amaral)


Curar com as mãos
em absoluto silêncio -
it's wonderful, ele diz
all my happiness está em passar o túnel
nunca como antes eu quis isto aaaamudar
dar um passo sem ver a terra
embrulhar-me, desistir ou aprender,
que o tempo seja

Ele diz-me isto em absoluta mudez,
he's the greatest não porque o poema
o diz, é a cat power a soar na coluna
no meio da soltura verbal
e o café entardecendo

Em matéria de curas somos sinais voláteis -
crises como peixes em cardume,
só falsamente sozinhos. Por isso, ele traz umas luvas
de escamas que abandona na mesa
e começa a discorrer (e eu ali parado vindo
das conexões ocultas que lhe devolvi em livro)

Não via o meu amigo há imenso,
metade de um ano não chega:
it was an empty shell, o meu verão
o meu luto.

10 maio 2010

2003
















Podia morrer aqui -
à boca de casa, um animal inteiro
atravessado de espinhas
e de insectos,
um vale dormente, uma chuva.
Tenho a porta presa ao chão: não quero o risco
de querer sair e de novo andar por esses sítios
de arpoantes voos - uma outra casa
que mesmo assim longínqua
me conhece e comigo acorda.