13 julho 2007

a comuna


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Somos a comuna, o grupo restrito dos que sorvem as palavras como jovens cabritos à espera do banquete. Somos a escondida tribo da cidade de chuva, das ruelas enfeitadas de Carnaval com nomes de santos. Somos os vestígios da última prática escritural, os que metem as normas e as línguas na grande taça de vinho. Somos pares, temos tempo para por agora sermos pares. Pagámos e quisemos pagar por isso. Somos o castigo de escrever, a punição que rola pelo nosso corpo acima. E somos um só corpo na palavra do pão e do sangue, o poema que virou hóstia, a fábrica que virou janela sobre a criação. Temos agora um templo para orar, só para descalçar por dentro o que de divino nos tocou, para estripar o eco num vasto nada que nos comeu a alma. Somos a grande apoteose, a aguarela das profissões e dos ofícios que carregamos em cima, a pedra que temos de levar às costas até ao chão voltarmos. E somos ainda a moderníssima esperança da dor, a criança fugindo do escuro ao unir os estranhos laços de uma nova era. Somos o culto, a capa da revista, a primeira montra dos quiosques, a histeria repentina dos gatos, o rumor da mão sobre o invencível canto do real. E teremos tempo, teremos tempo para celebrar a reunião da esguia noite. Tão cheia de promessa. Tão concreta de alimento, tão molhada de doce vida e diferente. Somos o movimento do lânguido suor inteiro, trocando manias e instruções, pequenas migalhas do universal texto que fizemos. E somos cada uma das índias que ainda não vimos. Dizemos por fim: somos a mesa que branca se compõe em quase silêncio, a entreaberta porta de onde chegam os húmidos passos, a grande decisão da existência. Seremos para sempre o momento único, o futuro que agora é, a experiência temporária de todos os passados.
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