26 junho 2007

numa gelada noite de junho rumo à sibéria

Meia garrafa de vodka pela garganta abaixo. No outro canto da mesa, alguém calcula o peso dessa garrafa, o hábito ao qual tenta fugir a sete pés. Prefere conhaque. Apesar da azia, sempre é um pedaço mais doce. De frente para o jardim povoado de brinquedos, comemos restos de bolos, coisas salgadas e falamos do número sete da selecção portuguesa. Chegam agora os vinhos especiais para molhar os queijos e mais uns copos de água para se ir aguentando o ardor das brancas. É noite, faz frio. Estamos parados debaixo de uma grande varanda com entrada para a aldeia. Devia ser noite de festa, mas há pouco ânimo para festa, já não temos posição nas cadeiras. A festa está ali na fronteira com a embriaguez. É secreta, tem o cheiro do cotão dos casacos velhos, e cada um imagina dançar o que lhe apetece. Vou dizer-te uma coisa: nenhum diálogo é engraçado se feito a partir das teses das gerações. E digo-te ainda agora outra coisa: tenho mais vontade de fazer de conta que participo nas teses das gerações porque tenho medo de ficar de fora. Não consigo perceber por que razão insistimos em falar, digo-te isto a ti. Temos tão pouco a aprender, sempre mais concentrados na explicação das nossas próprias preocupações. Porque pode vir todo o conhaque que tu quiseres, mas depois já não teremos fantasia que chegue para suportar a realidade.
asas

1 comentário:

Anónimo disse...

e como é preciso fantasia