10 maio 2007

um dia administrativo

3 comentários:

Anónimo disse...

Sem saída.

Não encontro portas
e todas as paredes
são mais brancas
que todas as cores juntas.

As janelas têm ponteiros
de relógios com cucos de madeira
empoleirados nas mangas de alpaca
das consciências enviesadas
do tempo que não há

Sobram combóios que passam
em velocidade estridente-mente
controlada para pesquisar
a maneira mais rápida
que possibilita a simples obtenção
de uma assinatura
do Senhor Director

Os selos brancos
continuam acorrentados
às secretárias de mogno
de pernas roliças
que hão-de um dia ser postas
à venda por tuta e meia

Adormeço em cima da cadeira
trespassado da loucura do couro
amarfanhado do sofá anterior
onde a assistente falou
horas a fio com o ar Doutoral
de quem nunca acaba as frases
como se toda a gente conhecesse
o fim dos axiomas inevitáveis

os papéis continuam amarelecidos
como no início do século
e toda a gente os diz brancos,
brancos, brancos, como o nada

papel selado é azul e há-de voltar
para que se tenha tempo
de não ficar eternamente agarrado
ao sonho e ao nevoeiro

para que haja linhas
onde se possa escrever que os combóios também descarrilam
se uma criança sopra de amor

Sem saída.
Branco.
Pálido.
Um dia burocrático devia acabar sempre numa piscina com velas
de olhos fechados
virados ao mar.

Sem saída.
Que dia!... -R

Anónimo disse...

nao há saída para o sol? parece-me algo familiar

Gabriel Mário Dia disse...

portas, relógios, assinaturas, selos, papéis e axiomas...isto realmente não deixa grande rasto de alegria. em todo o caso, há dias de grau zero, de uma neutralidade tão necessária que quase nos convencem da sua perfeição.(obrigado pelas vossas visitas)