28 fevereiro 2014

O senhor zangão e a sua varanda (ao L.S.)
















À varanda
o senhor zangão equilibra os pés.
Abriu as cortinas do peito
para melhor ver as estrelas,
e numa quieta e fria noite de inverno
pensa sobre os assuntos passados
da sua enorme experiência.

A grandeza do senhor zangão
é menor do que as estrelas que vê,
mas da sua varanda sobre o rio
ele observa a neblina da memória
enquanto o horizonte à sua frente se expande
naquela sua imaginação de ser maior.

O problema com que o senhor zangão se depara
é um problema pouco contemporâneo,
pelo menos dentro da cabeça do senhor zangão.
Há uma origem, um estilo, uma base
aquele brasão que a toda a hora ele segura,
e sem qualquer outra razão que a sua
ele dirá da luz que o mundo não sabe
por entre as trevas do tempo em que vive.

Ele é total e distante, um monárquico,
uma massa que se mistura com a própria vida.
E se num texto de agora o ouvíssemos falar
de nenhuma palavra nos haveríamos esquecer.    

(fotografia de Shomei Tomatsu)

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