21 janeiro 2011

Os mal-tratados

Eram amantes num tempo em que a formação amorosa se levantava do chão e não queria olhar por nós. Estavam a formar um círculo de muitos amantes, em vez de pensarem só nas águas que do outro lado da noite chegavam para os vigiar em silêncio. Então dormiram em paz, para melhor não deixarem passar esse seu aviso em vão. Lutaram contra os sons que em uníssono voltavam das ruas para de novo os levarem à entrada das coisas, quando a tempestade passasse. Foram amantes na verdade sós, irreconhecíveis para ninguém ver, como se lhes tivessem ateado no corpo o fumo de uma existência eterna. Em Novembro tudo seria diferente, tinham a ideia de ver no Inverno uma mudança de prática, de prática real, sobrevoariam os sonhos esquecidos no tempo, e de cujas tréguas uma voz gritava. Esses amantes de um quarto ancilar, terrível só de entrar, esses amantes agora de um palacete reinante, imbuído num hemisfério de rosas silvestres, esses amantes, pergunto, onde estão, que lhes fizeste tu, monstro de um olho só, tentáculo de um só osso entre pássaros de olhos partidos, tu que vinhas de um negro cru e rouco, do princípio de tudo, que lhes fizeste?

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