06 julho 2010

Ou um par à minha frente desfeito


Pôs um colar que toda gente menos eu
perceberia que era prata, e ali demiúrgico
era o colar de todos. Eu devia saber falar
sobre as novas cartas portuguesas,
mas o meu olhar desfeito era o seu princípio

«tão momentaneamente importante»

que a mim, embarcando no seu declínio,
me tomou de contramão,
para não falar do jipe parado sobre o passeio
que nos abispenhava o sol
e os demais entardeceres.
Começara assim a história dos que querem
falar dos seus antepassados amantes,
entre imaginações narrativas
que só o cérebro descalça de cada vez que com outro
se encontra,

«é uma merda a arte contemporânea»

mas fez-nos pensar entre a entre-aberta janela
daquela segunda-feira em que o teu colar
era de prata,
a imensidade da qual o tiraste
para sermos a literatura de umas cartas que nunca escrevemos,
ali sonoras.