07 agosto 2008

O grande sereio disse à mulher para cortar o bigode quando viu o mar


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Tinha vindo numa excursão religiosamente pensada e tinha pago a viagem já com três meses de antecedência. Havia gente que chegava à aldeia no verão e que se punha a contar isto e aquilo sobre o mar. Muito alegremente, mostravam uma pele dourada, tinham as pontas dos cabelos torradas e um sorriso difícil de explicar por quê. Pôs-se a mexer, meteu-se na camioneta. Viajava sozinha e pelo meio telefonou para a prima que estava em casa com tudo para fazer. Achou porém que se sentiu culpada. A seu lado dois homens fumaram como burros à janela, eram velhos e teve a impressão que cheiravam mal. Preferiu ignorar, fazer de conta que se entretinha com a paisagem lá fora. Veio sem nenhum saco, era uma coisa de um dia, apenas vê-lo e depois voltar. Já perto da costa era ainda preciso apanhar um autocarro para a praia. Estamos praticamente no fim de Setembro, pode ser que não esteja lá muita gente, pensou enquanto estava parada à espera. À medida que se aproximava da marginal, dentro do autocarro, ia vendo por trás do vidro uma linha recta pouco nítida por causa de uma chuva miudinha. Saiu: havia ar por arrumar, pensou, muito ar junto, falta aspirá-lo para algum lado, está à solta. O mar era uma grande goela, engolia furioso tudo e todos, diziam-lhe que aquilo era um cemitério entornado, parecia ser soprado de baixo para cima. O mar mais lhe pareceu a linha recta que afinal o mundo tem, não a que se via lá ao longe, no horizonte, mas a que se fazia no seu dorso. E às ondas que viu perguntava se lhe saberiam dizer por que tardava o seu amigo sem ela. De repente aquilo era o continente de todas as terras, a enfim solidão onde a clareza pode ser pensada.