12 março 2014

As nascentes (só os átomos são imortais)
















Demasiadas vezes contas esse teu fruto
um dia perdido
e depois achado na boca.
Havia passado um mês contigo na cabeça.
Fiz-me às ervas
e decidi colocar-te a mão o mais perto que fosse
de ti.
O mês inteiro por fim chegou
“novembro aqui outra vez”
e dilacerei uma família em cujos milénios
repousavam as feridas imberbes de um menino.
Fosse o sol menos escuro durante todo aquele mês
e eu talvez visse como nas direcções da rua
era o teu trajecto que a casa me levava,
mais ninguém ou nada.
O vício da entrega teve a ver com a solidão da mão,
aquela que por perto se pôs
e  muitas facécias disfarçava enquanto ao meio ia dar,
a ti, à pedra, ao princípio.
A coragem de um enterro não vale para uma mão inquieta.
Ela soerguia lentamente os dedos
como passos na rede estrelar do teu queixo.
Eu vi um traço, digo. Eu vi o traço de fugida que foi de surpresa
ver-te a rir,
e da minha mão todos os sons da terra bateram.
Fui à tua morte,
o princípio do silêncio que me puxara a corda
e escolhi exactamente o sítio para de frente me ver.
Quem morrera de facto?
As tentações do corpo, do amor, da sombra
são as nascentes. 

(fotografia de Peter Keetman)

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