27 janeiro 2012

Espelho meu













Eu preparo-me, enceno.
Juro que tento encenar aquela coisa
que é ser próprio,
e vejo o pouco que custa ficcionar.
Eu preparo-me para o corpo.
Desengano-me se te vejo,
o teu jeito é dinâmico.
E por detrás da cortina que se põe
a dupla forma do desejo liga-me os dias.
Parece haver apenas um tema,
um «saber ter»
como quando mudamos de pensamento
e o contexto é o mesmo.
Eu tenho a criação imprecisa
de te ter,
vario.
A coisa maior que costuma pesar o amor
é doer, diz-se.
E queria que ma doesse mais a mim do que a ti.
O quotidiano de mim
transforma-se em singular
quando prospera sobre um fundo singular.

20 janeiro 2012

Eu e as árvores

Eu tenho esperanças atravessadas
por um arco de tempo
que me dói
e depois disso
é uma melodia de árvores cadentes.
Tão tristemente
as árvores podem ser vistas
e eu cruzo-as
como um passageiro conhecido.
Dizem-me
“despertaste-nos a poesia num lugar recatado”
e eu
“não, minhas caras, o que se passa
é um oco, vejam como eu respiro”.

15 janeiro 2012

Fantasma prático






















O fantasma prático é como os pássaros
que migram durante o dia.
Há um entorno no qual descansa
e de novo se levanta
sem disfarçar o que é.
Um fantasma tem aquela identidade
que acaba em lágrimas,
como um fim. Ele compara-se sem parar
a todas as formas de vida,
e viaja.
Se alguém amar um fantasma prático
é preciso dizer-lhe
“que países queres tu perder?”
(seria, com efeito, uma questão pessoana)
mas de mundano para mundano era mais,
“que regresso te faz voltar?”
E viaja, viaja, sobre nós esse fantasma viaja
escolhendo entre tantos
quem a ele se entrega.