10 janeiro 2008

Coro dum acto para uma cena


Deolinda de perna longa
tão longa que eras Deolinda,
tuas pernas ali ao alto
dando conta do Rapazinho
enquanto teu paizinho...

ó nossa Deolinda,
enquanto teu paizinho pr’ali morria

tão traído este Rapazinho
que desde pequenino
não teve avô que lhe cuidasse
ia ficando sozinhito
vivendo a culpa em sua casa,
numa casa bem purgada
só tristemente infectada
por esse terrível sentimento
de ser gerado no meio do lamento

Deolinda de perna longa,
estava-te no sangue Deolinda de perna longa

depilaste essa firme coxa
no passeio só choviam olhos
e tu coravas, diz lá que não?
coravas como num pesado fogo
subindo-te ondulado,
querias tu que os moços todos
se mostrassem interessados

e tão longa que era Deolinda
que em v ficara ao alto, ganindo,
de calcanhares abertos
enquanto o Rapazinho em ti surgia
enquanto teu paizinho ali morria

Rapazinho este de grande sorte
entre o pecado e a repentina morte
aqui veio sem avô a quem chamar
sem mãe ou santo para acalmar

asas

1 comentário:

Anónimo disse...

Há um sabor lusotropical neste poema. Um ritmo caboverdiano, um calor brasileiro, um aroma a cacau de S. Tomé. Tudo por causa de uma perna que talvez seja Moçambicana. Bom exercício. Diferente, desenrolado, virado para fora. Parabéns-R