21 dezembro 2007

triálogo

Quem é que tem ideias? - duvidou a Liliana - filosofar sobre o presépio?
Aquela coisinha que conhecemos - disse o António - então o que é o presépio?
A Liliana encosta-se e ri. Penteia o cabelo e ri,
É onde a nudez do mundo tem calor, eu acho que é evidente - graceja
Fábio, é isso? Ora bem Fábio, o que achas disto? - tentou o António
Fica desconfiado, coça ligeiramente a barba, mas adianta,
É o berço... o princípio - diz em voz arrastada
É tipo o nosso nascimento - acrescenta a Liliana
Mas o que é que nasceu primeiro? - provoca o António
Voltam a centrar-se naquela frase. Aquela onde Miguel Torga associa presépio a nudez e fala sobre o calor do mundo.
Talvez a família - resolve dizer a Liliana - no fundo, pode ser a família a dar um sentido ao mundo em si
Ainda com a mão no canto da orelha, o Fábio atira a palavra afectividade, mas baixo. Segura a caneta com a ponta virada para cima, cala-se, aponta qualquer coisa no papel. Fica concentrado talvez a tentar definir uma ideia mais precisa sobre o natal.
Parece que é verdade, que se perdem vinte e uma gramas quando morremos - disse a Liliana
Mas isso está provado, cientificamente? - pergunta o António
A questão é: como é que se passa do nascimento à morte - voltou a introduzir a Liliana
No fundo é uma questão de fé - ouve-se dizer
O António fica parado olhando para o pedaço de papel com a tal frase. Vira-se para o Fábio quando este decide dizer que a afectividade é importante para a construção humana.
Sim, não sei se já viram... - comenta o António - ainda se fazem presépios humanos aí pelo mundo fora
Desviam-se da frase do Torga e iniciam uma pequena conversa sobre um assunto da semana passada.
É, podia ser um presépio de animais - ri-se a Liliana

04 dezembro 2007

incipit

asas
apesar de a língua que depois falamos
ser diferente
ainda temos no início da frase
uma tão louca coisa a afirmar
mais do que a dizer
que é o que quisemos escrever:

paz à nossa alma
asas